Trabajos y Comunicaciones, 2da. Época, Nº. 39, 2013. ISSN 2346-8971
Universidad Nacional de La Plata. Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación.
Departamento de Historia

DOCENTES E HISTORIADORES

 

O Projeto de Higienização, classificação, organização e digitalização do acervo documental do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas


Ana Inez Klein

Departamento de História
Universidade Federal de Pelotas
Brasil
anaiklein@gmail.com

Resumo:
O presente artigo apresenta o Projeto de Higienização, classificação, organização e digitalização do acervo documental do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas desenvolvido pelo Curso de História da Universidade Federal de Pelotas no Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas - IHGPEL. O trabalho aqui descrito iniciou no ano de 2011. Desde então, as atividades conjuntas entre as duas instituições foram diversificadas.

Palavras chave: arquivo, Pelotas, higienização, organização, acessibilidade

Abstract:
This paper presents the Project of Cleaning, Classification, Organization and Digitization of the documentary collection of the Historical and Geographical Institute of Pelotas History Course developed by the Federal University of Pelotas in Historical and Geographical Institute of Pelotas - IHGPEL. The work described here began in 2011. Since then, the joint activities between the two institutions were diverse.

Keywords: archive, Pelotas, hygiene, organization, accessibility

 

Introdução

A cidade de Pelotas foi palco de importantes momentos da história do Brasil. Centro gerador de riquezas com a produção do charque, que teve seu auge durante o século XIX, quando se transformou em pilar de sustentação das bases econômico-políticas do país que se desenvolvia na porção leste da América Meridional.

Com sua localização estratégica no sul da então Província do Rio Grande de São Pedro, hoje estado do Rio Grande do Sul, a região de Pelotas também se tornou ponto importante na história das guerras que delimitaram as fronteiras entre Portugal e Espanha, na disputa europeia colonial. Viu acontecer, ainda, episódios fundamentais da Revolução Farroupilha, pois está situada a aproximadamente 100 km de Piratini, escolhida, em 1836, para ser a primeira capital farroupilha.

Culturalmente, Pelotas também foi uma cidade de destaque. A pujança da economia charqueadora permitiu-lhe constituir uma elite rica, culta e sofisticada, que deu ensejo ao desenvolvimento de uma cultura literária e artística entre as primeiras, senão a primeira no Estado.

A cidade atualmente abriga os documentos desta história de escravidão, guerras, opulência e decadência. Entidade sem fins lucrativos, o Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas foi fundado em 07 de julho 1982, por um grupo de pessoas, tendo a frente o Major Ângelo Pires Moreira.

O IHGPEL mantém seu funcionamento para o atendimento ao público diariamente. Organiza eventos de divulgação das pesquisas realizadas com seu apoio, como a II Jornada de Estudos Genealógicos e IV Seminário de História e Geografia de Pelotas (2012), publica periodicamente a Revista do IHGPEL e livros, como as “Atas da Câmara Municipal de Pelotas (1832 a 1845)” e “Visita da Princesa Izabel a Pelotas (1885)”, e possui uma coluna semanal no jornal Diário da Manhã, onde divulga o seu trabalho.

O Instituto está em permanente atividade na busca da preservação de documentos históricos, buscando aumentar, qualificar e divulgar o seu acervo, que, em muitos casos, encontra-se em avançado estado de decomposição necessitando de urgente e permanente trabalho de higienização, conservação, organização e divulgação, com o fim de oferecer e garantir acessibilidade dos documentos ao público, gratuitamente, objetivo que norteia este projeto.

Na ausência de um Arquivo Público Municipal da cidade, o Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas se destaca por ser um importante espaço de guarda de documentos históricos. Todo o trabalho realizado pelo IHGPEL depende de ações voluntárias e parcerias, como com Câmara Municipal de Pelotas que viabilizou a Organização e Publicação das Atas da Câmara Municipal, com a Secretaria Municipal da Cultura, com quem desenvolve ações culturais de preservação da memória do município, e com a Universidade Federal de Pelotas que oferece, periodicamente, estagiários.

O Projeto

O Projeto de Higienização, classificação, organização e digitalização do acervo documental do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas foi elaborado com a parceria entre o Curso de Bacharelado em História da UFPEL e o IHGPEL no ano de 2011 e renovado anualmente desde então.

Trabalham permanentemente 3 a 4 alunos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado em História para cumprir os objetivos de higienizar, classificar, acondicionar e digitalizar os documentos de valor histórico, em suporte de papel, existentes no acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas, contribuindo para preservar o acervo. Os bolsistas

Os Bolsistas selecionados para atuar no IHGPEL frequentaram a disciplina de Organização de Arquivos Históricos, do Curso de Bacharelado em História da UFPEL, que forma historiadores capacitados para atuar em arquivos. Alunos do curso de Licenciatura em História que fizeram a referida disciplina também podem se candidatar para trabalhar no projeto.

A Universidade Federal de Pelotas apoia o projeto concedendo bolsas dentro do seu Programa de Bolsas de Extensão e Cultura – PROBEC.

O acervo

O acervo do IHGPEL é constituído de fundos documentais doados ao Instituto no decorrer de seus mais de 30 anos de funcionamento, como o acervo de atas da Câmara Municipal de Pelotas (1832-1847), a correspondência ativa e passiva da Liga Pelotense de Futebol Amador e do Esporte Clube Pelotas, a documentação iconográfica relativa ao próprio IHGPEL (1982-2012), documentos históricos diversos relativos ao período de 1870 à 1926, entre outros.

A hemeroteca do IHGPEL possui mais de trezentas pastas com informações históricos, exemplares de jornais raros dos séculos XIX e XX. Biblioteca possui cerca de 5.000 títulos e vários mapas antigos. Abriga em seu acervo a importantes conjuntos documentais, entre os quais, destacamos:

- documentação pertencente a Cassiano do Nascimento (político nascido em Pelotas e que ocupou importantes cargos na administração pública durante as primeiras décadas da República);

- documentação produzida por Manuel Lourenço do Nascimento, que lutou na Guerra do Paraguai (1865-1870);

- documentação referente à atuação da Câmara Municipal de Pelotas dos séculos XIX e XX.

- Fundo Museu do Charque;

- Fundo Liga Pelotense de Futebol, já citado.

A Metodologia

Para desenvolver o trabalho são aplicados procedimentos básicos para preservação de documentos, como sua limpeza individual e acondicionamento em suportes e localização adequados. O interesse maior é organizar para não perder o conjunto, mas as atividades de restauração não são ignoradas, quando necessário. Para isto conta-se com o auxílio de profissionais que atuam com restauração no Curso de Museologia da UFPEL.

A etapa mais importante deste trabalho, portanto, diz respeito à organização da documentação de alguns fundos. São aplicadas orientações segundo a bibliografia especializada, fundamentalmente os livros de especialistas em arquivologia como Belloto (1991) e Paes (1986) e manuais de organização de arquivos (Bernardes, 1998) que descrevem os critérios a serem utilizados para o arranjo do acervo.

São objetivos específicos do projeto: supervisionar a limpeza e higienização periódica da documentação, providenciar seu acondicionamento adequado, organizar as diversas coleções de documentos existentes, visando disponibilizar um arranjo de rápido acesso e consulta, propor uma novas formas de organização do espaço físico e a instalação de equipamentos que permitam atenuar os danos causados pelos fatores climáticos e biológicos e contribuir na seleção de fundos para proceder a sua catalogação e digitalização.

Permanentemente os bolsistas trabalham, portanto, na higienização de acervos documentais, classificação e catalogação de fundos documentais, contribuem na digitalização de documentos e devem, inda, auxiliar na organização e participação em eventos do Instituto, além de desenvolver práticas de ação educativa em arquivo.

Considerações Finais

O público alvo principal do projeto são os pesquisadores da História de Pelotas. O público secundário é a comunidade pelotense ligada à cultura local, os cidadãos, em geral, e estudantes da educação básica, enfim, todos aqueles que de alguma forma possuem sua identidade vinculada à história de Pelotas e para os quais a preservação de documentos históricos e a acessibilidade a estes documentos sejam um direito a ser garantido com o projeto.

O trabalho de promoção da acessibilidade aos documentos históricos de uma determinada sociedade é, por princípio, promotor da cidadania. Destaca-se o fato de que não há, em Pelotas, um Arquivo Histórico Municipal e o IHGPEL cumpre, em parte, esta fundamental função social. Concomitante a isto, o projeto oportuniza aos graduandos do curso de Bacharelado e Licenciatura de História vivenciar o trabalho em arquivo histórico, desempenhando as mais diversas atividades. Pode-se fazer referência, ainda, ao compromisso que o IHGPEL possui de trazer, através de ações educativas e práticas de educação patrimonial, a população pelotense para dentro do arquivo.

Referências Bibliográficas

Bellotto, H. L. (2005). Archivística, archivos y documentos. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo.

Bertoletti, E. C. (2002). Como fazer programas de reprodução de documentos de arquivo. São Paulo: Arquivo do Estado / Imprensa Oficial do Estado.

Cortés Alonso, V. (2005). Nuestro modelo de análisis documental. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo.

Fonseca, E. N. da (1992). Introdução à biblioteconomia. São Paulo: Pioneira.

Heredia Herrera, A. (2003). El principio de procedência y los otros princípios de la archivística. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo.

Jameson, S. (1964). Administração de arquivos e documentação. Rio de Janeiro: FGV.

Integrar: I Congresso Internacional de Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação e Museus. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002.

Lopez, A. P. A. (2002). Como descrever documentos de arquivo: elaboração de instrumentos de pesquisa. São Paulo: Arquivo do Estado / Imprensa Oficial do Estado.

Machado, H. C. (2004). Os arquivistas – administração de conflitos e negociação (soluções compartilhadas). São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo.

Magalhães, M. O. (1981). História e tradições da cidade de Pelotas. 2. ed. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul/Instituto Estadual do Livro.

Magalhães, M. O. (1994). Pelotas século XIX. Pelotas: Mundial.

‘O direito à memória: patrimônio cultural e cidadania’. (1992). São Paulo: DPH – Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal da Cultura.

Paes, M. L. (2005). Gestão de documentos de arquivo. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo.

Rondinelli, R. C. (2005). Gerenciamento arquivístico de documentos eletrônicos: uma abordagem teórica da diplomática arquivística contemporânea. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV.

Santos, V. B. dos (2005). Gestão de documentos eletrônicos: uma visão arquivística.2ª ed. Brasília: Associação Brasileira de Arquivologia.

SILVA, Zélia (ORG) (1999). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo: UNESP.

Smit, J. W. & Kobashi, N. Y. (2003). Como elaborar vocabulário controlado para aplicação em arquivos. São Paulo: Arquivo do Estado / Imprensa Oficial do Estado.

Tessitore, V. (2002). Os arquivos fora dos arquivos. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo.

 

Esta obra está bajo licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 2.5 Argentina